segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Retirantes

Em um lugar muito distante, conhecido como: o último canto do mundo, o mar se esvaziou. As pessoas que lá moravam migraram para o sul em busca do oceano, que veio a se tornar uma riqueza. Os animais morreram, e a comida foi sumindo aos poucos, obrigando-os a economizar esforços para que a fome não os abatesse como já tinha acontecido com alguns pobres infelizes que tinham ficado pelo caminho por fome.
Em seus olhos, eles traziam consigo a face da morte que fora companheira desde o início da viagem. A senhora de toda dor do mundo, a única verdade absoluta da humanidade postava-se á eles como uma amiga inocente que oferecia companhia humildemente sem nada pedir em troca. Muitos desses andantes nada tinham á não ser suas roupas e alguns poucos pertences; para a viagem só foi levado aquilo que realmente lhes seria necessário.
Outra companheira de peregrinação desses miseráveis, era a esperança. Essa sim, ao contrário da outra, oferecia algum conforto e incentivo para continuar a peregrinação: Almas insólitas, não tinham nenhum alento apoiavam-se apenas no fato de que em algum lugar muito distante eles encontrariam aquilo que procuravam.
Do alto do monte celeste, “aquele que decide” dirigia todo o destino dos peregrinos. Sem saber que sua caminhada terminaria a qualquer momento, eles continuavam a andar cegos pela companheira mais confiável, e sondada pela mais traiçoeira, a qual estava com todos em sua mão, já que em um acordo com “aquele que decide” ganhou para si o alimento que faltava para saciar a fome que lhe atordoava. Sendo ela um ser inanimado, necessitava de vida para acalmar suas entranhas famintas pela centelha divina que cada uma dos andantes possuía dentro de si.
Dias e noite se passaram e o horizonte permanecia da mesma maneira que estava no ato da partida dos confins do mundo. Permanecia ele, como um cadáver encontrado com olhos abertos, e que refletiam apenas uma imagem: MORTE! Depois de uma temporada e meia de peregrinação, “aquele que decide” percebeu que se dependesse da força dos desgraçados, seu trato com a “verdade absoluta” não seria cumprido, e então decidiu agir. Enfermidades foram lançadas sobre as cabeças dos viajantes e muitos morreram garantindo assim, uma parte do acerto. Mas os andarilhos se vestiram da única arma que lhes restava, sua “companheira mais confiável”, e seguiram em frente; só depois de duas temporadas completas o futuro apareceu à todos e o mar foi novamente visto. Para a alegria dos poucos sobreviventes daquela jornada, não apenas o mar foi alcançado, mas também, a certeza de que baixar a cabeça para interferências inesperadas é ceder ao acordo “daquele que decide” com “ a única verdade absoluta”.

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